Em meio às incertezas criadas por possíveis tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros, a ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, enfatizou a necessidade de diversificar mercados, fortalecer a integração regional e aumentar os investimentos em infraestrutura. A declaração ocorreu durante o evento “Logística no Brasil”, realizado nesta quarta-feira, em São Paulo.
“Embora ninguém tenha uma bola de cristal, conversando com diversos setores, fica claro que o mundo não será mais o mesmo diante das novas barreiras”, afirmou Tebet. Ela destacou que a taxação brasileira possui motivações distintas em comparação com situações envolvendo a União Europeia e o Japão, onde os Estados Unidos enfrentam um déficit comercial. A ministra questionou quais seriam os reais interesses dos EUA nas recentes discussões comerciais com o Brasil, sugerindo que as motivações vão além do desequilíbrio na balança comercial.
“Diante desse cenário geopolítico mundial, não podemos ficar lamentando; precisamos realizar nosso dever de casa. E já estamos fazendo isso, preparando o Brasil para o futuro”, disse. Para a ministra, a principal estratégia de resposta reside em um plano nacional de logística e infraestrutura com um horizonte de 25 anos.
“O Ministério do Planejamento e Orçamento, em conjunto com o Ministério dos Transportes, o Ministério de Portos e Aeroportos, entre outros, está desenvolvendo, dentro da Estratégia Brasil 2050, um plano de longo prazo que será apresentado este ano na COP 30 pelo governo do presidente Lula. Este plano inclui um importante capítulo voltado para o desenvolvimento econômico sustentável do Brasil, focado em infraestrutura e logística”, explicou.
Tebet ressaltou que o plano abrange não apenas as rodovias, mas também a integração dos modais ferroviário, portuário, aeroportuário e hidroviário. “O governo do presidente Lula aborda o transporte de forma ampla, incluindo ferrovias, portos e aeroportos, dentro de uma estrutura nacional de planejamento. É motivo de orgulho ter um plano nacional de logística para os próximos 25 anos”, afirmou.
De acordo com a ministra, um dos pilares desse plano é ampliar a inserção internacional do Brasil através de corredores logísticos mais ágeis e competitivos, sendo o programa Rotas de Integração Sul-Americana fundamental nesse contexto. “Precisamos garantir acesso rápido e eficiente ao Pacífico e à Ásia. O caminho mais curto para novos mercados é pelo Pacífico”, destacou.
Ela mencionou o projeto ferroviário que irá ligar Ilhéus (BA) ao Peru, com apoio técnico da China. “Estamos prestes a concluir uma ferrovia que atravessará o Brasil de leste a oeste, ligando Ilhéus, passando pela Bahia, Goiás, Rondônia, Acre e chegando ao Peru, no porto de Chancay, para acessar a Ásia. O total é de 6.000 km, com mais de 4.000 km no Brasil e 2.000 km no Peru”, detalhou. Para a ministra, esses esforços evidenciam que o Brasil está se preparando com uma visão estratégica de longo prazo.
No novo cenário de reconfiguração comercial, Tebet destacou a importância de aprofundar as relações do Brasil com blocos econômicos como Mercosul, União Europeia e BRICS, visando diversificar parcerias e fortalecer sua posição no comércio internacional. Ela observou que a América do Sul representa uma oportunidade imediata para a expansão comercial.
“Atualmente, a relação comercial do Brasil com a América do Sul é de apenas 14%. Há uma janela de oportunidade significativa nessa área, tanto no que diz respeito ao turismo quanto aos serviços e produtos elaborados”, explicou.
Nesse contexto, a ministra também defendeu o fortalecimento das relações com os BRICS. “Embora a preocupação dos Estados Unidos com a China e a proximidade do Brasil com os BRICS seja um complicador, é importante lembrar que os BRICS não são o problema; para o Brasil, são parte da solução”, afirmou.
Tebet reiterou que o Brasil é dependente desses países para a importação de insumos estratégicos e para a exportação de commodities e produtos da agroindústria. “Não podemos dispensar fertilizantes da Ucrânia e da Rússia, assim como dependemos das exportações de nossas commodities e da agroindústria para países da Ásia”, apontou.
Segundo a ministra, é crucial que o país construa bases sólidas para enfrentar desafios futuros com autonomia e resiliência. “Não podemos ser pegos de surpresa por crises como a que acabamos de experimentar”, concluiu.
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