A cidade de Bogotá, na Colômbia, sediou na quinta-feira, 21 de agosto, o Diálogo Ético do Estoque Global (GST) da América do Sul, Central e Caribe. Essa iniciativa, considerada um dos quatro pilares de mobilização social para a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas em 2025 que ocorrerá em Belém, tem como objetivo avaliar os imperativos éticos necessários para enfrentar a crise climática, com especial atenção às populações mais vulneráveis.
O evento contou com a presença de cerca de 30 participantes, incluindo líderes religiosos, políticos e empresariais; artistas; representantes de comunidades indígenas, afrodescendentes e locais; jovens líderes, cientistas, formuladores de políticas e ativistas de toda a região.
Entre os dignatários presentes estavam a Ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas do Brasil, Marina Silva; a ex-presidente do Chile e co-líder do GES para América Latina e Caribe, Michelle Bachelet; a Ministra dos Povos Indígenas do Brasil, Sonia Guajajara; o Ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Márcio Macêdo; e o Presidente da COP30, embaixador André Corrêa do Lago.
Em suas declarações, Marina Silva ressaltou que o GST “busca avaliar o atual estado da emergência climática sob a perspectiva de valores éticos, como forma de contrabalançar a ética das circunstâncias que aprofundaram as várias crises que enfrentamos.” A ministra enfatizou: “Nosso legado deve ser o estabelecimento de uma nova estrutura ética para orientar a próxima década de ação climática.”
Michelle Bachelet destacou que o mundo se encontra em “um momento decisivo para definir e implementar propostas capazes de limitar o aquecimento global a um máximo de 1,5°C.” A ex-presidente chilena acrescentou que é possível alcançar essa meta, pois abandoná-la significaria aceitar o sofrimento de milhões, especialmente aqueles que menos contribuíram para a crise. “Os diálogos do GST são essenciais, pois incorporam não apenas as perspectivas dos governos, mas também de cientistas, acadêmicos, comunidades indígenas e outros que compreendem tanto os desafios quanto as soluções. Apenas por meio de um diálogo inclusivo podemos alcançar uma transição justa”, afirmou.
Ambassador Corrêa do Lago acrescentou que “não se trata apenas de clima, mas de um conjunto de ideias para construir um mundo melhor, um novo mundo que sempre almejamos.” Ele reforçou que “a ciência é clara: precisamos agir mais rapidamente e de forma mais decisiva, e apenas por meio de um debate ético podemos encontrar os caminhos corretos.”
O Estoque Global Ético reflete sobre os avanços realizados, os desafios futuros e as transformações comportamentais e sistêmicas necessárias para cumprir as metas do Acordo de Paris, especificamente limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C acima dos níveis pré-industriais. O GST é inspirado no processo de Estoque Global do Acordo de Paris, cuja primeira revisão oficial foi concluída na COP28, nos Emirados Árabes Unidos.
A iniciativa se fundamenta na crença de que a humanidade já possui as soluções técnicas necessárias para enfrentar as mudanças climáticas e alcançar uma transformação ecológica. Contudo, o que falta é o compromisso ético para implementá-las. O GST concentra-se em como cumprir esse compromisso, especialmente em relação às promessas climáticas feitas por quase 200 países desde a assinatura do Acordo de Paris em 2015.
Central à discussão está o Consenso dos Emirados, alcançado na COP28, em que os países se comprometeram a triplicar a capacidade de energia renovável, dobrar a eficiência energética, interromper o desmatamento e fazer a transição a partir dos combustíveis fósseis. O GST reforça a convocação por ação climática feita pela presidência da COP30.
Sob a liderança do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e do secretário-geral da ONU, António Guterres, o processo do GST culminará em seis relatórios regionais e um relatório de síntese global, que serão apresentados na Pré-COP em Brasília em outubro. O documento final será submetido à presidência da COP30 para informar as negociações e decisões climáticas.
Durante seu discurso, a Ministra Sonia Guajajara destacou que “enfrentar a mudança climática requer fortalecer as democracias globais e o multilateralismo, além de garantir a participação indígena em todas as discussões. Por isso, devemos avançar, destacando sinergias, proteção de terras e a defesa dos povos indígenas para enfrentar os eventos climáticos de forma direta.”
Márcio Macêdo afirmou que “um compromisso ético renovado é necessário por parte de cada cidadão, organização, empresa e governo para abordar a crise climática. Esse processo de diálogo ético e planetário, que reúne líderes sociais, culturais, espirituais, empresariais, científicos e políticos, está perfeitamente alinhado a essas aspirações.”
O Estoque Global Ético é estruturado em Diálogos Regionais programados até outubro em vários continentes. O primeiro diálogo foi realizado em Londres em junho, representando a Europa, e co-liderado pela ex-presidente irlandesa Mary Robinson. A segunda sessão ocorreu em Bogotá.
Diálogos futuros ocorrerão na África, co-liderados pela ativista ambiental queniana Wanjira Mathai; na Ásia, com o ativista indiano e laureado com o Prêmio Nobel da Paz Kailash Satyarthi; na Oceania, sob a presidência do ex-presidente de Kiribati Anote Tong; e na América do Norte, co-liderado por Karenna Gore, fundadora do Center for Earth Ethics.
Além dos Diálogos Regionais, o GST também inclui Diálogos Auto-Organizados, liderados por organizações da sociedade civil e governos nacionais/subnacionais, utilizando a mesma metodologia e princípios do processo central.
A reunião em Bogotá foi organizada com o apoio da Rockefeller Foundation, como parte da consulta regional para a América do Sul, Central e Caribe rumo à COP30.
Para mais notícias, acesse o Portal Defesa – Agência de Notícias.