O Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (MUNCAB) acolheu, nesta segunda-feira (18/8), a etapa baiana do Projeto de Sinalização e Reconhecimento dos Lugares de Memória dos Africanos Escravizados no Brasil. A iniciativa, coordenada pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, conta com a colaboração dos Ministérios da Igualdade Racial, da Cultura, da Educação e da UNESCO. O projeto se fundamenta no Inventário Nacional dos Lugares de Memória dos Africanos Escravizados no Brasil, divulgado em 2013 pela Universidade Federal Fluminense e pela UNESCO.
Na primeira fase do projeto, a Bahia abriga 25 dos cerca de 100 locais selecionados, ressaltando sua importância na narrativa da escravidão no país. O evento incluiu uma apresentação à sociedade civil e uma visita técnica ao Cais da Cidade Baixa, que é oficialmente reconhecido como ponto de desembarque de africanos traficados para o Brasil. Antes da proibição do tráfico atlântico, em 7 de novembro de 1831, o cais recebeu milhares de pessoas escravizadas e continuou a ser utilizado para o tráfico interno e transatlântico.
Moema Carvalho Lima, coordenadora-geral de Memória e Verdade da Escravidão e do Tráfico Transatlântico de Pessoas Escravizadas, detalhou a metodologia do projeto, enfatizando a importância do engajamento das comunidades locais para o sucesso das ações.
Representantes de instituições parceiras, como IPHAN, IPAC e a Fundação Gregório de Mattos, sublinharam a relevância da colaboração interinstitucional na preservação da memória afro-brasileira. A Defensoria Pública da União, através da coordenadora do Núcleo de Equidade Racial, Dra. Raquel Malta, destacou a necessidade de justiça social na reparação histórica.
O encontro também incentivou o diálogo com a sociedade civil. A diretora do MUNCAB, Cintia Maria, enfatizou o papel dos museus como centros vivos da cultura negra e da memória coletiva. Participantes como Nilma Santos e Sheik Abdul Ahmad reafirmaram a importância de valorizar os territórios historicamente ocupados pela população negra e de estabelecer laços entre Brasil e África, garantindo que a história permaneça presente. A vereadora Marta Rodrigues (PT) esteve presente na cerimônia e presenteou o Ministério com uma placa em homenagem à Ladeira dos Malês, um marco significativo da resistência negra.
Pai Buda, líder religioso do terreiro Roça do Ventura, fez uma bênção à ancestralidade negra e saudou os presentes, ressaltando a importância de preservar as tradições afro-brasileiras. Ele enfatizou que “é com muita luta que estamos conseguindo que o povo Jeje preserve e difunda a tradição dos Voduns”.
Selma dos Santos, do Centro de Memória da Bahia, sublinhou a importância das políticas públicas estaduais voltadas para a valorização da memória. Durante a visita técnica, a comunidade teve a oportunidade de conhecer o modelo de placa que será replicado em outros locais, reforçando a preservação histórica.
A escolha da data do evento tem um caráter simbólico importante. O mês de agosto inclui o dia 23, instituído pela UNESCO como Dia Internacional da Lembrança do Tráfico de Pessoas Escravizadas e da Abolição da Escravatura. Esta data recorda a revolta de escravizados na noite de 22 para 23 de agosto de 1791, no atual Haiti, um evento que desencadeou a Revolução Haitiana e impulsionou processos abolicionistas nas Américas.
O projeto de sinalização representa uma medida concreta de afirmação da memória, de reparação simbólica e de resistência. A iniciativa será ampliada para outros estados, reiterando o compromisso do Ministério dos Direitos Humanos com a preservação patrimonial e a valorização da história da população negra no Brasil.
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